Receita infalível para descobrir quem lhe ama

Dizem que há uma receita infalível, como um vírus, para descobrir se é amado e em que nível por alguém. Desde um animal de estimação ao amor de sua vida.

Essa lei, mais do que uma receita queda à vista de qualquer um que não seja idiota o bastante para rejeitar o óbvio, e, acredite, a grande maioria é assim, por isso vivem punidos por tal imbecilidade sofrendo diversas vezes durante a vida, e culpando aos outros pelas próprias tolices, incapazes de enxergar equilíbrio, atormentados profissionais.

Passemos então à breves considerações no que concerne à ingenuidade incentivada que empurra os tontos aos maiores e mais complexos dissabores da vida. Senão vejamos: se alguém lhe ignora por completo e chega a demonstrar sinais de asco, mas não perde a oportunidade de criticar seus atos mesmo que não tenham nada a ver com isso… Pode significar que essa pessoa sente imensa paixão por você. Ou não. Talvez ela te odeie mesmo.

E se alguém lhe cobre de atenções, flores, bombons, carícias e gentilezas inesperadas, preocupa-se com o seu bem-estar e demonstra isso abertamente o tempo inteiro… Pode ser amor inigualável, necessidade de estar junto o tempo todo. Ou apenas interesse em seus bens materiais e propriedades, inveja e vontade de usufruir das coisas as quais lhe pertencem.

Caso os olhares se tornem intensos e significativos, os lábios sejam constantemente molhados por uma língua sedenta; o roçar das costas das mãos, os toques acidentais… É provável que seja atração indescritível, tesão incontido, realmente. Ou apenas vesgos som Alzheimer em ambiente controlado tentando conversar sobre a palestra do médico de ambos.

Ainda não entendeu?! A receita está no ar, para provar que o aleatório domina o amor! Você recebe os condimentos e cozinha, ou frita, mistura ao seu bel prazer e seja o que Deus quiser!

Não há fórmula matemática. Não há passo a passo! O que tiver que acontecer, acontecerá. E a grande roda da vida continua a girar, isenta, indiferente, indiscriminadamente.

                              Marcelo Gomes Melo

A política do “Faça o que eu digo, portanto faça o que eu faço”.

O Brasil é o maior país da América Latina. Também é o mais promissor dentre todos em termos de desenvolvimento. O Brasil é o eterno país do futuro já faz 50 anos ou mais!

O nosso país é o mais rico em recursos naturais e em possibilidade de enriquecimento pessoal e coletivo. O ufanismo é oferta da casa, embora as ações contradigam completamente esse falso “brasileirismo”.

Enquanto o nacionalismo é vendido pelos novos astros com sorrisos e frases de efeito, esses mesmos astros desconhecem que estão vestindo, dos pés à cabeça produtos estrangeiros, agindo como cowboys como se isso fizesse parte de nossa cultura interiorana; do campo mesmo apenas o analfabetismo congênito provocado pela falta de cuidado do governo educação e cultura, transformado erroneamente em humildade, quando nada tem a ver com isso. Colocam idiotas deslumbrados para falar das raízes; mas não as nossas, as raízes de outros povos.

O Brasil tem uma mania de grandeza absurda para quem sofre com tanta desigualdade social. Essa mania se espalha inclusive pelos que ostentam sem ter nenhuma condição para isso, vendendo o almoço para comprar o jantar, mas fazendo o que mais lhes importa: contar vantagem.

Não se pode esquecer que possuímos os políticos mais corruptos do mundo, uma imprensa despreparada em sua maioria, por ser formada por ex-jogadores, artistas e outros picaretas que desconhecem os princípios do jornalismo porque não estudaram para isso, enfraquecendo uma área de suma importância para uma sociedade evoluída.

E o ponto crucial, embora politicamente incorreto, que é o fato de sermos um país de gente mal educada, desrespeitosa e fútil. Não se trata de pobreza nem de falta de cultura, que fique bem claro, mas de educação. De achar desnecessário respeitar as normas de conduta social. Não importa se são ricas ou pobres, as pessoas parecem ter vergonha de utilizar com frequência palavras preciosas como ”por favor,”, “com licença” e “muito obrigado”; se acham no direito de usar o wi fi do vizinho, carregar uma “criança” de dezoito anos no colo para furar a fila, ou usar os avós idosos que mal se aguentam em pé para utilizar o caixa eletrônico antes dos outros.

Uma nação que ignora as regras de boa educação, que ofende com linguajar chulo e em altos brados em lugares inadequados, que usa celulares e fuma em locais proibidos, proclamando a si mesmos como sinceros, originais e autênticos, de forma que ignorância pareça sinônimo de autenticidade.

Um país de superlativos engana a si mesmo em grandes proporções. Essa grandiloquência facilita os tombos homéricos, ludibriados pela própria falta de noção e humildade.

Resta criar um antídoto para isso. Um antídoto realista e verdadeiro, não mais delírios estrondosos que jamais darão resultado. Já é hora de passarmos das reclamações sem fim, apontando os mesmos erros que todos conhecemos, da crítica inócua e evasiva para ações diretas que resultem em melhora imediata, mesmo que pequena.

Como conseguir isso? Praticando o que pregamos, individualmente. Criando a política do “Faça o que eu digo, portanto faça o que eu faço”.

                      Marcelo Gomes Melo

As piores pessoas no comando do mundo

Todos desejam opinar, mesmo que desconheçam o teor do fato a ser opinado. Querem se inserir em um contexto o qual desconhecem, pré-julgam com enorme facilidade, e a desculpa não é a mesma em caso de erro, exagero e engano. A intensidade desabafa e a vida segue como se nada houvesse acontecido, as reputações abaladas e assassinadas sem volta, e a sanha de destruição odiosa cada vez mais veloz segue incólume, como se nada tivesse acontecido.

Opiniões baseadas no “ouvir falar”, conspirações que se espalham como fogo no matagal apenas por atingirem gente despreparada para entender o que está acontecendo, analisando friamente os fatos, oferecendo o benefício da dúvida para evitar linchamentos morais impiedosos que não terão mais volta.

A fama suposta que se obtém crucificado as pessoas apenas para fazer parte da maioria fica cada vez mais atraente para os seres invisíveis que não querem passar a vida inteira sem alguns segundos de fama, mesmo que isso custe decisões enganadas que causam muito mal e destroem, esmagam as vítimas sem nenhuma piedade.

O senso de justiça está morto e enterrado, as decisões são tomadas pela régua da maioria, dos que gritam mais alto e não demonstram o mínimo escrúpulo na arte de respeitar ao próximo. Hipócritas apregoam as próprias virtudes ignorando o dobro de defeitos que têm, incapazes de viver honestamente, sem inveja, sem julgar os outros pelas próprias atitudes.

Não há como fugir desses escravos mentais que torturam seus pares apenas para ter o que falar, e nada melhor do que subir usando as pessoas como degraus, sorridentes e indiferentes como se nada tivesse acontecido.

Quem ostentar mais, fazendo cara de humilde e voz sepulcral lendo pronunciamentos repetitivos, prolixos, imprecisos e mentirosos, largará na frente com maiores chances de superar os menos espertos.

E a maldade se espalha nesse tom, criando novas formas de matar, e insensibilidade para perceber que a maioria que mata não é sobrevivente, é um grupo de sacanas desavergonhados que comandam o mundo da pior maneira possível.

                              Marcelo Gomes Melo

O amor ciumento com o passar dos séculos

Cruel e maldoso, possessivo e belicoso. Sempre disposto a implicar e exigir, a pegar e demonstrar, por vias tortas, os sentimentos certos.

Mordaz e insensível, insensato e sensitivo, embaralhando as cartas marcadas como se dependessem da última vida, não aceitando argumentos, declinando desculpas, acusando bravamente, sofrendo e fazendo sofrer.

Um poder ilimitado de desconfiar, entender errado, bradar suas teses sem aceitar contra argumentos, loucura patética e insônia voraz. Ódio contumaz momentâneo, garrafas e garrafas de álcool esvaziadas, canções de teor duvidoso e lamentação vergonhosa.

Ameaças infundadas, dias escuros, dores de cabeça, juras de morte e fuga da maturidade. Admissão parcial de culpa, conversa atravancada de olhos baixos e acusações veladas que podem reacender repentinamente a fogueira das vaidades, a tentação de sobrepujar ao outro mesmo que isso vá causar tristezas pessoais intransferíveis, como tomar veneno e esperar que o outro morra.

Acabrunhar-se por dias, escorando-se nas amizades para desabafos homéricos em troca de tapinhas nas costas e um “vai ficar tudo bem” ensaiando e constrangedor.

Um arremedo de violência contra a outra pessoa, não concretizado, transferido imediatamente para si mesmo com promessas vazias de suicídio, envenenamento, residência incendiada… Ida para o inferno por escolha própria em busca do sofrimento eterno e da dor irreparável.

Tudo muda, entretanto, em piscar de olhos, quando uma frase combina subitamente, um pedido de desculpas febril é sussurrado, de ambas as partes, o choro se transforma em sorrisos e promessas de reconciliação eterna, que jamais será abalada por qualquer bobagem, o sol voltará a brilhar e o orgulho retornará aos corações e cabeças erguidas, de mãos dadas pelas ruas como se nada tivesse acontecido.

Isso, meu caro, é o amor enciumado, a insegurança espalhada e disseminada relacionamento adentro, a necessidade perene de confirmação de fidelidade e amor recíproco.

Bem, isso antes da Era do feminicídio, do machocídio e outros neologismos bizarros com os quais a sociedade tem que aprender a lidar até que novas modas se insurjam no dia-a-dia a ponto de abalar as regras implícitas dos amores problemáticos.

Os séculos se atropelam enquanto as diferenças mudam e a batalha se acirra por ideais recém construídos por novos idiotas. Mais do mesmo, sobreviva a isso quem for mais apto.

                                       Marcelo Gomes Melo

A razão do meu sorriso

Não são pétalas de rosas que, impulsionadas pelo vento açoitam o meu rosto em uma tarde de outono no caminho do parque das ilusões; muito menos o arrepio involuntário que a vista da cidade me causa, daqui do ponto mais alto, o pico do mundo.

A alma ajustada ao corpo, momento de sintonia fina em que se alcança respostas plausíveis para a existência, valorizando o nível de tranquilidade maior, que é o que todos os seres humanos perseguem durante a completa existência.

A comemoração da amizade real, que exalta as sensações e promove a percepção detalhada do “estar junto” mesmo sem palavras, complemento essencial para uma vida plena, feliz e cooperativa.

O controle das paixões sem perder o arrebatamento necessário ao consumo de cada célula de prazer, lidando com os terrores que vêm acoplados com firmeza e domínio das próprias emoções, sem moderá-las, transformando-as em frieza.

O toque suave e constante, que transmite confiança e proteção, apazigua a ansiedade, proporciona segurança e calor, unindo a sobriedade com a paixão mais ferrenha.

As luzes densas que se alternam no escuro, de diversas cores ante todas as possibilidades que surgem durante a batalha de amor, entre sussurros, pedidos e exigências.

Os mergulhos nos lagos mornos e rasos, nos quais o pensamento flutua e o corpo descansa livre de qualquer urgência. Viver em vez de sobreviver.

Todas essas grandiosidades não me abrem sorriso tão largo, longo e caloroso quanto a visão celestial que acelera o coração e encanta o pensamento. Não se comparam ao sorriso mais lindo que possuo e que a mim não mais pertence, logo que salta e se espalha pelo mundo, colaborando para o encaixe das belezas naturais do planeta. Sim, nada se compara a esse sorriso confiante e apaixonado que surge instantâneo provocado por apenas um fator crucial: Você!

                    Marcelo Gomes Melo

A permanência sob os temporais

Eu quero permanecer sob a chuva, o mundo está tremendo como os meus sonhos. Aturdidas, as pessoas procuram lugares em que se esconder para observar os raios e sentir os estrondos dos trovões impiedosos, atestando que há algo de beleza no que, ao mesmo tempo é assustador.

Eu vou permanecer sob a chuva densa que empana os olhos e massageia o lombo sem pesar, lavando a alma, esquecendo coisas, percebendo que a maior importância reside naquele exato instante e não no que compõe a vida, passado e futuro.

O momento que desnuda o ser, uma raridade em uma sociedade oposta; a verdade é que esses momentos acontecem diversas vezes, mas poucos têm a coragem ou o interesse em reconhecer, porque equivaleria a assumir uma enorme mudança, uma guinada total, sem concessões para o restante da existência.

 Sob a chuva, o temporal, nada importa se você acreditar que o sol logo estará misturado, e em sequência assumirá o comando por um bom período. O sol é a realidade mais comum, não assusta as pessoas e costuma cobri-las com qualquer surpresa. Os temporais também acontecem para todos, mas não costumam ser abraçados por todos, encarados de frente e superados como é feito com o sol.

 Eis que pretendo confrontar os temporais, tirar o melhor das minhas dúvidas, sobreviver à escuridão momentânea que pode assombrar por um período, mas jamais para sempre, e o resultado sempre dependerá da força interior, das escolhas pessoais, do imponderável que é estar sob a chuva, só, feliz, triste, igual.

                                       Marcelo Gomes Melo

A vida nem sempre oferece tempo suficiente

Camadas e camadas se sobrepõem a uma pessoa comum até que você porventura alcance, lá no fundo, o verdadeiro ser, a razão da existência dessa pessoa, e nem sempre é agradável como geralmente se acredita.

 Nem a própria pessoa imagina como realmente é, por isso as diversas camadas criadas para protegê-la, inclusive dela mesma.

 Um visual para o mundo, a imagem pública que quer vender para adquirir diversas vantagens, e até poder.

 Um estilo sólido, ou diferenciado, para conquistar prestígio, contatos influentes que transmitirão a troca de informações que beneficiarão a todos naquele círculo de amizade e negócios. Mais negócios do que amizades.

Uma imagem de caráter e belos ideais, decência e expectativas admiráveis para a conquista de um amor verdadeiro, que desmoronará assim que as outras camadas sejam descobertas.

Uma atuação original e chocante, flertando com o perigo e as tentações, objetivando relações imediatas e inéditas, rápidas o suficiente para serem esquecidas facilmente.

São essas camadas que encaminham cada indivíduo ao seu destino, dependendo da ordem em que são superpostas. Ah, e o imponderável. É ele o encarregado de virar vidas de cabeça para baixo e destruir sonhos, causando tristeza e dor.

Ou o contrário, retirando do pântano vidas sem expectativa para brilhar inesquecivelmente em locais e com pessoas que as farão felizes para sempre.

Conjugar os verbos viver e amar não é tarefa simples, e só a ingenuidade intrínseca aos corações humanos as faz temer desesperadamente, embora nem sempre haja tempo suficiente para isso.

                              Marcelo Gomes Melo

Argumentando contra o coletivo

Enquanto eu perseguia os sonhos do mundo, os meus sonhos passavam ao largo, e eu me perguntava o porquê da dificuldade de as coisas não darem certo da maneira que eu esperava.

Talvez você diga que eu sou uma boa alma, porque se as coisas no mundo funcionarem bem, muitas dos particulares automaticamente funcionarão; e se eu participei da conquista coletiva, individualmente não é assim tão importante. A preocupação com isso pode até sonhar com egoísmo. Não é esse o ponto, argumentarei de volta imediatamente. O que eu quero dizer, com serenidade, é que tudo é importante, inclusive a preocupação com o próprio templo que cada um de nós representa.

 Sempre estar envolvido com as próprias necessidades, de forma a se manter saudável para atuar coletivamente é essencial, o oposto do egoísmo.

Quem costuma se anular acaba implodindo, inútil para si mesmo e, em consequência, para qualquer outra situação. O coletivo começa em cada um de nós. Para um movimento são é preciso grupos de pessoas sãs, sem qualquer tipo de fanatismo que os ceguem e guiem para ações destrutivas.

Assim sendo, o amor que me cabe, que lhe cabe, está por aí aguardando o momento exato para florir, desabrochar; o reconhecimento profissional, social, serão alcançados à hora em que o equilíbrio com a natureza seja alcançado.

Pense em si mesmo sem egoísmo, mas com o carinho e a atenção que se tem com um filho de Deus; prepare-se, mantenha-se forte, paciente, sempre pronto. Um imã para a felicidade. Buscando a compreensão de si mesmo para melhor para todos.

                              Marcelo Gomes Melo

Alcançando o amor tardiamente

Antes que eu acorde tenho que lhe dizer da minha vida. Sonhos importantes nos quais você está incluída com importância máxima e hesitei bastante antes de tomar a coragem dos inalterados mentais para confessar o que sinto sem temor de rejeição.

Antes que eu desperte devo falar dos momentos de insônia e insegurança que me fizeram sofrer por ausência de atenção de sua parte, embora você notasse a parca existência de um ser humano sem sal, desprovido de atrativos suficientes para fisga-la e ganhar o prêmio máximo que seria o seu bem querer maravilhoso.

Em meus devaneios lisérgicos me incomodo por não segurar as suas mãos macias e, olhando no fundo dos seus belos olhos declarar a paixão que me consome desde os tempos idos, quando madrugava pelos jardins em busca da flor perfeita para enfeitar os seus cabelos, mas acabava sentado à beira da cerca, mudo, empedernido enquanto a flor perdia o perfume e eu as esperanças.

Vê-la passar tão alegre refazia-me a alma e acalentava a motivação em mim, então admirar os seus passos cheios de vida revigorava o meu ser e me faziam sobreviver a mais um dia de solidão.

Veja, não me queixo em momento algum por você  se manter à distância, não me dignando a atenção que daria a um cãozinho de rua, um afago, um resto de olhar pelo canto dos olhos que resvalou em um amigo e sobrou gratuitamente para o admirador imóvel e atento que sempre fui. Culpo a mim mesmo, um homem capaz de ser invisível até nas circunstâncias mais atrozes, infeliz que sou, sem sorte que devo ser.

Agora que finalmente estamos próximos me sinto leve, estranhamente desinibido, feliz por poder compartilhar com você essa minha paixão por você. Posso sentir o seu carinho e cuidado, os seus toques firmes e respeitosos em meu corpo conspurcado pelas atitudes nocivas que tomei durante a vida, justamente por falta de um par cuidadoso que me fizesse enxergar bem as coisas. Alguém como você.

Antes de voltar a mim e retornar àquela vidinha opaca quero confessar o meu amor decano que muitas vezes me impeliu à beira do penhasco para gritar os meus medos e necessidades, sem conseguir pronunciar sequer uma frase. Mudo, soterrado em meu mundo de pensamentos.

 E agora posso lhe perguntar pelo menos o seu nome, esticar a mão para tocar o seu rosto, me sentir no paraíso!

Parece ter demorado um século, mas agora no ocaso das minhas percepções contemplo a justiça realizada por uma existência de expectativas. Eu só queria lhe dizer…

 – Esse cadáver está pronto, Armando, já o preparei para o velório. Até que ficou apresentável, meio sorridente!

 – Boa, Elza, vou leva-lo para a sala principal, na qual receberá a última homenagem dos parentes. Hoje você será a estrela, amigão!

Elza! O seu nome é Elza! Vou acordar, Elza, me apresentar e tentar fazê-la feliz pela eternidade! Oh, para onde estão me levando? Não! Elza! Não para longe de você, meu amor! Vamos dividir a moradia, Elza! O paraíso é logo ali!

– Nossa, Armando, esse defunto que você está levando se afastou e eu senti um arrepio! Cruz credo!

                              Marcelo Gomes Melo

Amor em tempos de corte no orçamento

Nada de motel. Nada de jantares em restaurantes caros. Nem baratos. Nada de jantares à luz de velas, nem de lanternas. Nada de lanches no McDonalds. Nada de presentes de aniversário, de dia dos namorados ou lembrancinhas de qualquer tipo. Esqueça.

Nada de viagens para perto, longe, de trem, ônibus, jegue ou a pé. Nem pense em bebidas chiques, comidas gourmet, sequer farinha de mandioca com mel de abelha.

Viveremos de amor! Surfando nas nuvens da fome, nadando nos oceanos de prazer da inanição, sambando nas churrascarias veganas, sonhando com as feijoadas do tesão e macarronada do casório perfeito!

A nossa vida em uma choupana que não abriga da chuva e não protege do frio, deitados sobre folhas de bananeira, bebendo água dessalinizada artesanalmente e comendo peixe sem tempero, banana verde e sopa de pé de pombo será abençoada por Deus e bonita por natureza, mas que beleza!

O nosso amor de cada dia abominará a rotina, pois a cada dia nos reservará surpresas inesgotáveis. Catar latinhas, cobre e papelão trocando olhares hipnotizantes de paixão, dividir a fila do SUS com sorrisos ternos, de mãos sujas dadas, fedendo a porco molhado, sem saber o que é um banho há meses…

 Ausência de reclamações, lamentos, acusações ou atitudes mimadas explicitamente pela falta de forças e energia. O amor tão resistente quanto o vírus da gripe, capaz de atravessar barreiras e empalidecer a qualquer um.

Os olhos mortiços e nublados emprestam um artifício novo que possibilita enxergar uma beleza que só pode ser exterior. Uma vida de abstinência às armações midiáticas que lhe fazem consumir desesperadamente, sendo enganados a um ponto de não sobreviver sem os vícios dos produtos novos, dos lançamentos tecnológicos e novidades politicamente corretas que ajudam a disseminar a hipocrisia universal.

Quantos são os casais dispostos a um amor assim? Inviolável, irresistível, quase mortal? Quantos são os casais modestos o suficiente para abandonar os frutos dos amores artificiais e velozes de hoje em dia, que acontecem e acabam tão rápido quanto uma estrela cadente? Quantos viverão de amor e pelo amor? Há alguém?

Entendem agora o que querem dizer os poetas através dos tempos?

                              Marcelo Gomes Melo